segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Só pra confirmar a "guerra cambial"

Por dentro do Mercado:
Clima de guerra no câmbio global
Eduardo Campos
20/09/2010

O clima é de guerra no mercado de câmbio. A semana que passou mostrou as primeiras batalhas. Entre os movimentos, destaque para a intervenção do Japão para conter a valorização do iene, algo que não acontecia desde 2004 e causou reações no mundo todo. Depois assistimos aos Estados Unidos voltando a endurecer seu discurso contra a China e seu yuan artificialmente desvalorizado. Por aqui, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, também criticou a atuação do Japão, dizendo que o Brasil tomará medidas contra a desvalorização cambial de outros países.

Conforme o tempo passa e os países se arrastam para sair do estado de crise, a tendência é de que essas brigas envolvendo câmbio e comércio se acentuem e fiquem mais violentas.

Banco Central reduz duração dos leilões de compra à vista

Conforme notou o economista da Gradual Investimentos, André Perfeito, a situação é simples: o cobertor é curto e as grandes economias estão tentando não ficar descobertas.

Todos buscam a saída da crise via comércio externo, mas não tem comprador para tudo.

Perfeito lembra este tipo de "desvalorização competitiva" de moedas é algo perigoso e foi um dos grandes motivos para o aprofundamento da crise de 1929.

"Os líderes mundiais das economias industrializadas estão nervosos com a demora da recuperação econômica e o ônus político começa a pipocar na frente dos seus gabinetes. A tentação de entrar neste tipo de estratégia é enorme", escreveu o economista.

Além dessa guerra global, o mercado local enfrenta suas próprias batalhas.

Mantega não só bateu no Japão e nas economias asiáticas, mas também colocou sobre a cabeça do mercado a espada do imponderável ao ameaçar atuar no câmbio com tudo o que tiver para conter a apreciação do real "Vamos comprar tudo, já estou avisando", disse o ministro ao comentar a operação da Petrobras.

Após a fala de Mantega, o mercado assistiu a uma profusão de notícias e análises sobre o uso do Fundo Soberano, do Tesouro, do swap cambial reverso e da redução de limites de exposição cambial dos bancos, entre outras.

Completando o quadro de incerteza, o Banco Central (BC) abriu novo front para especulações ao alterar, na tarde de sexta-feira, a duração dos leilões no mercado de pronto. As instituições têm 5 minutos e não mais 10 minutos para fazer suas propostas. Entre as teorias que surgiram de imediato temos: o BC quer fazer mais de dois leilões por dia e/ou quer tornar suas atuações menos previsíveis e passíveis de manipulação.

A ideia aqui é que os bancos que tomam parte nos leilões combinam as taxas entre si antes de apresentar ao BC.

Ainda assim, essa decisão do BC foi a única coisa concreta da semana, mas que não prática pode não significar grande mudança.


O discurso nas mesas continua sendo de que o governo quer segurar o câmbio no grito. Usar o discurso como instrumento de intervenção.

Analisando friamente, por ora, não faria sentido mudar as regras do jogo em função de um fluxo pontual decorrente da oferta da Petrobras.

Usar o Fundo Soberano ou qualquer outro instrumento só faz sentido no momento em que o fluxo for fato.

Fora isso, todos trabalham como se esse fluxo fosse líquido e certo. E se alguma coisa não der certo e o governo já tiver armado uma série de medidas para a desvalorização do real? O que pode acontecer?

"Quando não se sabe o que vem pela frente é melhor ir mais devagar", disse certa vez um quadro do próprio governo.

Eduardo Campos é repórter

E-mail eduardo.campos@valor.com.br

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